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Leandro Povinelli
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Mais uma vez os motoristas deverão preparar o bolso para a conta de um novo repasse no custo dos combustíveis. No começo deste mês o governo voltou a recolher a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), do Programa de Integração Social (PIS), e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre o custo de derivados de petróleo nas refinarias. Com isso, imediatamente, houve um aumento de até R$ 0,22 na gasolina, R$ 0,15 no diesel e R$ 0,10 no etanol. Em uma análise feita pelo Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Campinas e Região, no entanto, o cenário continua pessimista, com a aposta de que os preços deverão continuar subindo nos próximos dias, empurrados pela entressafra da cana-de-açúcar e aumento dos encargos tributários.
“Na semana passada, os produtores pediram um aumento de R$ 0,12 e, nessa semana, o aumento está chegando às bombas”, afirmou Edmílson Martins, vice-presidente do Sindicato. “A previsão de colheita dos anos 2013 e 2014 era de 586 mil toneladas, mas só alcançou 560 mil toneladas. Com isso, os preços deverão ter outra alta nos próximos dias, empurrados pela falta de estoque”.
Ainda de acordo com o sindicato, o aumento da gasolina foi de 9% e do diesel de 7%. “Nós torcíamos para que a volta da Cide não fosse repassada para o preço dos combustíveis nas refinarias. Mas, na atual situação da Petrobras, a companhia não segurou o custo do produto. Os revendedores repassaram o novo valor que chegou das distribuidoras. O custo do petróleo está caindo no mundo, mas vivemos uma alta no mercado interno. Acredito que, quando a Petrobras conseguir equilibrar o caixa, a companhia irá reduzir o preço dos combustíveis no mercado interno para ajustar o valor ao comercializado no mercado internacional”.
Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), porém, os preços dos combustíveis atingiram a maior média para o mês de janeiro em 13 anos, segundo dados divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Para Indaiatuba, segundo o órgão, a média de preço da gasolina chega ao valor de R$ 2,955, enquanto o preço médio do etanol atinge R$ 1,982.
Ainda de acordo com a ANP, conforme uma pesquisa realizada no dia 27 de janeiro, os locais mais caros para o abastecimento no município apresentavam o valor de R$ 3,069 para gasolina e R$ 2,179 para etanol. Entretanto, uma pesquisa realizada pela Tribuna aponta que os preços da gasolina e do etanol em Indaiatuba chegam a R$ 3,289 e R$ 2,199, respectivamente.
“Não temos o que fazer, o culpado é o governo”, explicou o frentista de um dos postos visitados pela reportagem. “Nós precisamos acompanhar o ritmo da distribuidora, se eles passam um valor para nós, temos que repassar esse preço com o aumento aos consumidores, e isso é ruim, já que muitos deles chegam ao posto e vão embora sem abastecer ao perceber o aumento”, disse.
Bandeira branca
Com a alta nos preços, a solução para a maioria dos motoristas tem sido recorrer aos postos que compram o combustível de distribuidoras menos conhecidas. Com poucos dias depois do aumento nas bombas, as grandes redes de postos, conhecidos como “bandeirados”, já sentem uma diminuição no número de clientes, que migram para postos de distribuidoras menos conhecidas e com preços mais em conta, chamados de “bandeiras brancas”.
“Tem aparecido muitas caras novas, gente que nunca tinha abastecido aqui e agora pede para completar o tanque”, explicou um frentista de um posto com bandeira branca. “Não sei dizer com precisão, mas tenho certeza que as vendas aumentaram no nosso turno de trabalho, completa”.
Nas ruas de Indaiatuba, todavia, a Tribuna passou por alguns estabelecimentos e, ao contrário dos valores oferecidos por postos bandeirados, é possível encontrar em postos de bandeira branca a gasolina sendo negociado por R$ 2,959 e o etanol por R$ 2,099.
Para Pablo de Souza, especialista em manutenção de caixas eletrônicos, a elevação do custo de combustíveis fez com que ele tomasse uma decisão que fosse agradável ao bolso. “Sempre procurei pela qualidade dos postos, abastecendo em locais conhecidos, mas, com esse aumento, se os preços não se encaixarem no bolso, terei de ir aos postos mais baratos e sem bandeira”, afirmou.
Diferença
Acostumada a encher o tanque do carro ao menos três vezes na semana, a empresária Thalita Garcia demonstrou revolta com o aumento dos preços. “Achei um absurdo”, disse. “Preciso viajar direto, visito várias cidades e meus gastos com combustível não são baixos. Anteriormente, para encher o tanque do meu carro, sempre gastava algo em torno de R$ 70 ou R$ 80, agora esse preço foi para quase R$ 100. É um aumento bastante considerável, tendo em vista que preciso abastecer pelo menos três vezes na semana”.
Já para a funcionária pública Maitê de Aguiar, o conformismo foi a saída encontrada. “Eu realmente não concordo com esse aumento, mas o que podemos fazer? Não temos muita escolha. Ou pagamos pelo que é imposto ou deixamos de andar de carro, não temos saída”.
Por fim, o técnico em informática Lauro dos Santos afirmou ter estratégias para não sofrer tanto com a alta da gasolina. “Vou parar de usar meu carro quando possível e começar a sair com minha bicicleta”, explicou. “Assim consigo economizar um pouco de dinheiro e ainda faço exercícios”, brincou.