Publicado em: 14/06/2018 15h40 – Atualizado em 15/06/2018 15h30
Pierre Sorlin: signos,
símbolos e cinema
Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus é superintendente da Fundação Pró-Memória e doutor em História Cultural e Pesquisador da Unicamp/IFCH
Pierre Sorlin foi mais um historiador que contribuiu para pensar o cinema como fonte do trabalho histórico. Sua posição central: questionar a ideia de que o filme seja o reflexo de uma realidade histórica. Nesse sentido, Sorlin acredita na contribuição da semiótica, a ciência dos signos usados na comunicação, para resgatar os diversos símbolos que compõem um filme e que, uma vez classificados, permitirão sua leitura.
Para ele, a imagem propõe grande número de mensagens, cabendo ao historiador reagrupar certos elementos icônicos selecionados dentro de um conjunto maior, ressaltando, contudo, que cabe ao historiador definir com os critérios próprios de sua pesquisa o eixo de sua análise. (cf. Kornis, 1992, p. 246). Nessa mesma linha, outro elemento que Sorlin acrescenta é o de que o filme é realizado por uma equipe e deve ser considerado todo o circuito de financiamento, filmagem e distribuição.
Essa é outra razão para que a análise do filme não se resuma nem à intenção do diretor nem à análise do conteúdo, a partir de seu roteiro. Para ele, é através da análise da justaposição dos códigos do filme e dos códigos específicos de uma época, que o filme se torna uma fonte de estudo fundamental para o historiador que pretende examinar a mentalidade de um determinado momento histórico.
Em comparação a Marc Ferro, outro historiador que tratamos aqui e faz uma análise histórica do cinema, pode-se dizer que ambos concordam com a ideia de que a imagem não copia a realidade e de que a câmera revela aspectos que ultrapassam as evidências. Entretanto, contrário ao estabelecimento de uma homologia entre filme e mentalidade de uma sociedade, num dado momento histórico, Sorlin procura um sistema de leitura distinto de Ferro.
O primeiro procura o auxílio da semiótica como forma de desvendar a linguagem do filme, ao passo que Ferro acaba por concentrar-se na análise contextual. A “busca do não-visível” de Ferro está intrinsecamente ligada a uma análise do conteúdo do filme e ao contexto de produção. Mas, foi a partir da contribuição de ambos que o cinema passou a fazer parte do universo do historiador e por quenão do professor de História na sala de aula. Mas esse é outro tema para uma próxima coluna.
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