Publicado em: 01/08/2018 15h03 – Atualizado em 03/08/2018 17h47
O cinema revolucionário
de Eisenstein
Dentre os filmes que geralmente seleciono para os meus cursos, de longe O Encouraçado Potenkim (1925), de Eisenstein, é o que causa maior discussão. Não é à toa que é tido não só como um dos melhores filmes de todos os tempos, mas como também o mais inovador. Situação que pode causar espanto para os menos avisados, no entanto, se julgarmos que a Revolução artística foi anterior à Revolução Política na Rússia do começo do século 20 tal situação não parece tão estranha assim.
O contato com as Vanguardas Artísticas Europeias resultou numa proposta de vanguarda essencialmente rus-
sa na primeira década do século passado. Pode-se dizer que ajudou a influenciar a revolução e foi influenciada pelo clima de mudança política. O rompimento com o passado tradicional do Império, com os valores burgueses, e o objetivo de produzir uma arte proletária, caracterizada por uma liberdade cultural de criação, marcou a produção de Vanguarda Russa no começo do século 20. Exemplo disso é o Construtivismo dos irmãos Antoine Pevsner e Naum Gabo (1920). Nessa linha que podemos destacar o cinema de Vertov e Eisenstein, ou seja, um cinema revolucionário, não apenas na sua proposta política, mas na sua montagem.
Com certeza O Encouraçado Potemkin seja o seu maior exemplo, tanto por suas descobertas técnicas e por sua intensa narrativa, como por sua filosofia estética e política presente em cada cena. Mas a obra em questão, que fez parte da comemoração aos 20 anos do início da Revolução Russa, foi além da política e da estética, sua forma foi tida como revolucionária, pois ajuda a libertar o espectador de ideias pré-concebidas, ficando aberto às novas realidades. Situação que fica clara, por exemplo, nos cortes abruptos para enfatizar uma situação, o que possibilita a reflexão em cada cena e não só após o fim do filme, além disso pode-se destacar, também, os dois planos diferentes subsequentes que dão outro sentido à narrativa (montagem dialética).
Tudo isso comprova o fato de que uma produção como essa de Eisenstein, pode ser tomada como uma análise de fonte histórica que rompe com valores arcaicos do pensamento linear, pois a montagem tem como base mais o ritmo do que a história. Por exemplo, a cena clássica da Escadaria de Odessa é uma metáfora do panorama social da Rússia da época, com os soldados do Czar em cima e povo sempre embaixo. Além disso pode-se destacar a cena da mãe desesperada pelo fato de seu bem mais precioso ter sido levado, o que simboliza a crueldade humana do regime czarista.
Pode-se dizer, assim, que Eisenstein utilizou o conteúdo para romper com uma “pseudo censura”, exprimindo suas próprias iniciativas, o que para o historiador Marc Ferro (2010, p.83) comprava o fato de que “o filme, sempre vai além de seu conteúdo”. Para Ferro, ainda, Eisenstein consegue evocar uma situação revolucionária a partir de informações inventadas, o que mostra comose pode, a partir do cinema, transcrever o verdadeiro a partir do imaginário.
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