Apesar de todos os avanços da ciência, ainda há muito a descobrir sobre o funcionamento de nosso cérebro. Em média, alega-se que conhecemos apenas 10%, o que significa que temos uma imensa e poderosa “máquina” trabalhando a todo vapor e por todo o tempo sem sabermos o que ela esta fazendo.
Muito do desentendimento entre pessoas ocorre pela negação de colocações que são feitas, sem que se pare para refletir ao menos um pouco sobre o que foi dito. Negação provocada em muito pela necessidade de estar “sempre” certo, de “nunca” cometer desencontros em nossas ações, como se já tivemos a crença de que termos atingido o máximo do autoconhecimento.
Quando alguém se propõe a passar pelo processo terapêutico, ela encontra um ambiente receptivo e acolhedor, onde não se vê julgada, criticada. Percebe-se aceita como é e isso a ajuda em muito a começar a se aceitar: “Se o outro me aceita, então não sou tão feio (a) assim!”
Nessas condições, passa a se permitir a olhar mais detalhadamente para seus atos, encontrando mais claramente as razões que os originam. Nem sempre essas razões são belas. Em muitas vezes são estados que todos criticamos nos outros: inveja, raiva, despeito, vingança, e outros mais.
O objetivo desse tema é alertar para o fato de que em muitas vezes há algo desconhecido por traz do que estamos fazendo ou dizendo. Ter a consciência da inconsciência é exatamente saber isso e ao saber disso, não cometer intransigências, assim como refletir mais nas percepções dos demais a respeito de ações praticadas por nós.
Vamos a um exemplo muito comum: A pessoa é convidada para uma festa de aniversário, vai e encontra o que se costuma chamar de “a senhora festa”, boa e farta comida, bebida, musica agradável e decoração irrepreensível. Ela logo de início encontra um “motivo” para se apresentar indisposta, expressão fechada, pouca conversa. Questionada, explica seu mal estar. Pasmem: ela acredita na própria desculpa dada, pois o verdadeiro motivo de seu mau humor está oculto para ela mesma; o despeito.
Também comum no amor, ao se conhecer alguém que a (o) atrai, mas não corresponde a expectativa antes estabelecida de como deveria ser a pessoa a ser amado (a), o relacionamento se inicia com manifestações de rispidez e mesmo desdém, vindo só mais a frente se revelar enquanto verdadeiro sentimento pela pessoa.
Ter consciência da inconsciência é saber que podemos estar agindo por motivos diferentes dos que achamos ser. Só de se ter essa consciência muito se deixa de brigar e muito se aprende consigo mesmo. Na medida em que se descobre a verdadeira razão, fica então muito mais fácil de resolver. A inveja se transforma em admiração, servindo de modelo para uma situação semelhante.
Identificar que o que irrita na outra pessoa é o fato dela ser diferente do que eu imaginava que deveria ser, possibilita abreviar o tempo para iniciar a ser feliz. Uma vez uma cliente jovem e muito bonita me disse: “Olha só, sempre gostei de rapazes atléticos, altos, sarados, e acabei me apaixonando por esse baixinho e gordinho.” Ele rindo completou: “Baixinho, gordinho e gostoso.” São muito felizes.
Quando alguém ou algo nos incomoda muito é sempre útil nos perguntarmos o que, de fato, esta gerando esse incomodo ou mesmo essa irritação em nós. Basta nos perguntarmos e não querermos ser os donos da verdade. Saber que pode ser bem diferente do que inicialmente nos parece ajuda e muito. A verdade aparecerá.
Um cliente tinha fortes dores de cabeça, que ele atribuía a problemas físicos, embora nenhum exame dos muitos feitos apontasse algo. Quando “baixou a guarda” e se permitiu olhar outras razões, descobriu que inconscientemente imitava seu pai, alguém que ela criticava muito. Seu pai sofria de violentas crises de dor de cabeça. Ao descobrir isso, viu em seu gesto a forma de manifestar seu amor por ele, apesar de não aceitar a forma como ele agia.
Suas dores de cabeça sumiram e buscou rever seu pai, que há muito não via. Até onde sei, possuem um relacionamento amigável.