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Adriana Brumer Lourencini
adriana@tribunadeindaia.com.br
O número de mulheres que deixam para engravidar depois dos 35 anos vem aumentando. Um dos principais fatores para isso é a priorização da carreira, seguido pela falta de independência dos pais, por não haver encontrado o par ideal e outros motivos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, há alguns anos, era considerada gravidez tardia aquela que ocorria a partir dos 35 anos. Porém, isso mudou. Atualmente, considera-se a idade ‘ideal’ para engravidar, dos 20 aos 35 anos. O médico ginecologista e obstetra, Dr. Marcos Vicente de Genaro, diz que esse período pode se alargar ainda mais nos próximos anos, já que a tendência de as mulheres engravidarem mais tarde é um fato. “Nos dias de hoje, a gravidez entre os 35 e 40 anos é considerada pré-tardia. Depois disso é tardia, pois há um aumento dos riscos na gestação, que irão variar de acordo com alguns fatores, como quadro clínico e hábitos alimentares”, explica o médico.
O estudo Saúde Brasil, que aponta dados sobre a saúde do brasileiro, como taxa de natalidade e fecundidade, mortalidade, surtos, epidemias e outros, mostra que o percentual de maternidade após os 30 anos cresceu 30,2% na última década. Por outro lado, o número de mulheres abaixo dos 19 anos que tiveram filhos caiu para 19,3% no mesmo período.
A pesquisa constata também que, quanto maior o nível de escolaridade da mulher, mais tempo ela demora para engravidar. Independência financeira, aquisição da casa própria e fases de desemprego também são causas comuns para se ter filhos mais tarde. O parto da autônoma Rosely Dias Francisco foi aos 36 anos de idade.”Esperamos a situação financeira melhorar. Apenas meu marido trabalhava e queríamos sair do aluguel. Quando o Vítor chegou, eu tinha quase 9 anos de casada”, lembra.
A gestação na maturidade tem seus benefícios, pois os casais estão mais preparados para isso. O medo e a ansiedade são comuns em mães de primeira viagem, não importando a idade, porém, a experiência de vida conferida pelo tempo favorece o planejamento, o que pode trazer mais tranqüilidade. Para o psicólogo Paulo Antolini, “mães mais maduras aceitam melhor a tarefa de buscar um preparo e acompanhamento, não só médico, mas também psicológico o que ajuda muito em todo o processo (da gravidez) e após o nascimento do bebê”.
De um modo geral, a gestação em qualquer idade, causa uma significativa mudança na vida da mulher, e altera completamente sua rotina e visão de mundo. O fato, por si só, já representa um desafio de adaptação, mesmo para a mulher dinâmica e atualizada. Sob o aspecto fisiológico, não é diferente, já que o esforço para se adaptar à nova condição pode originar sintomas incômodos.
Assim, alguns fatores psicológicos afetam a gestante com mais de 35 anos. “Ocorre o aumento da sensibilidade. O que antes era normal para ela, agora é percebido e sentido de outras formas, muitas vezes criando conflitos nas relações. É a manifestação de um novo sentido de vida”, esclarece o psicólogo Paulo Antolini.
“Além disso, existem os temores causados pela própria cultura do risco, com a distorção de que ser mãe após os trinta anos pode gerar filhos com problemas. Não estou falando dos aspectos clínicos, mas culturais que ainda atuam. Muitas negam, pois desconhecem os efeitos do que está no inconsciente”, completa.
Paralelo às mulheres que são mães mais tarde, há aquelas que atingiram a casa dos 30 e não conseguem engravidar. É o caso da analista de exportação, Edna Sousa, 39 anos. Ela está casada há 12 anos e optou por não ter filhos mais cedo. “Pensei primeiro na minha carreira, em termos nossa casa e viajarmos. Agora, não posso engravidar por causa de uma endometriose que tive há alguns anos”, conta. “Após conversar com meu marido, resolvemos: vou tentar mais uma vez pelo processo normal, já que inseminação artificial está fora de questão”, afirma. Edna conta ainda que chegou a pensar em adoção, porém, percebeu muita dificuldade, principalmente por causa da burocracia e do longo tempo de espera.
Os riscos são maiores nas gestações pré-tardia e tardia, pois a mulher tem menos óvulos e a fertilidade diminui. O doutor Marcos Vicente aponta como principais fatores de perdas na gravidez o sedentarismo, alimentação irregular e inadequada, históricos familiares de diabetes, câncer etc. “Até os 35 anos, as chances de abortamento são de 2% a 4%; depois disso, principalmente após os 38 anos, a porcentagem de perda dobra, assim como o risco de ter uma criança com a síndrome de Down. É necessário ter cuidados com o peso, mantendo alimentação equilibrada e prática de exercícios físicos. O consumo de bebidas alcoólicas, naturalmente, deve ser abolido”.
Sobre o câncer de mama em mães mais maduras, Marcos Vicente esclarece que não há associação direta. “O câncer de mama normalmente surge por outras razões, como antecedentes na família, por exemplo, e não devido a uma gestação tardia”. O ginecologista salienta ainda que o ideal é começar o pré-natal antes da concepção, ou seja, a mulher deve procurar o médico antes de ficar grávida. “Só com exames laboratoriais poderá ser feita uma avaliação clínica, que irá identificar com mais segurança os possíveis riscos”.
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No dia 19 de novembro foi celebrado o Dia Internacional do Homem, e a data foi lembrada com estratégias do Ministério da Saúde para conscientização da população masculina. As ações alertam para a prevenção de doenças, com a realização de exames de rotina, e incluem os homens na paternidade ativa.
A prática do pré-natal dos futuros pais tem ganhado força, derrubando preconceitos. A realização do exame contribui para reduzir e evitar a transmissão vertical (por contágio) da sífilis e do HIV. Isso é fundamental, pois “mesmo que a mulher tome todos os cuidados durante a gravidez as precauções serão inúteis se ela tiver relações sexuais com o parceiro infectado”, alerta o doutor Marcos Vicente.
Os exames preventivos de rotina e testes rápidos podem ser feitos na unidade de saúde. Com isso, é possível detectar hepatites B e C, HIV, sífilis, diabetes, colesterol e pressão arterial. Os homens poderão também receber informações sobre risco e prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DST). A iniciativa da paternidade ativa engloba, além do apoio à parceira, os cuidados básicos com o recém-nascido, como o processo de amamentação, e tem o objetivo de promover vínculos afetivos saudáveis e qualidade de vida às famílias.