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Fábio Alexandre
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O fenômeno teve início no verão de 2011, quando os primeiros textos da escritora E.L. James começaram a ganhar a internet. Inicialmente disponível como e-book e livro impresso a pedido, a primeira parte do que viria a ser uma trilogia ganhava repercussão ao permitir que leitores curiosos explorassem a história de amor erótica.
Assim, “Cinquenta Tons de Cinza” começava a sua carreira de sucesso, superando a marca de 100 milhões de exemplares vendidos em 51 idiomas, transformando E.L. James na autora mais bem paga da atualidade. É claro que o cinema não deixaria passar números tão impressionantes. Assim começou uma disputa intensa pelos direitos de adaptação, adquiridos pela Universal Pictures pela “bagatela” de cinco milhões de dólares e quebrando o recorde de “O Código da Vinci”, de Dan Brown, cujos direitos teriam custado três milhões de dólares.
Em sua estreia no cinema, “Cinquenta Tons de Cinza” repete o sucesso obtido na literatura. Seu primeiro trailer, lançado no final de 2014, foi o vídeo mais visto do YouTube no ano passado. As vendas antecipadas de ingressos vêm quebrando recordes e já colocam o filme como uma das maiores bilheterias da temporada, que acaba de começar. Em Indaiatuba, os números não fogem desta realidade e “Cinquenta Tons de Cinza” estreia nos Topázio Cinemas na próxima quinta-feira, dia 12, com sessões praticamente lotadas nos primeiros dias de exibição.
O filme conta a história de Anastasia Steele (Dakota Johnson), uma estudante de literatura de 21 anos, recatada e virgem. Certo dia, ela deve entrevistar para o jornal da faculdade o poderoso e enigmático magnata Christian Grey (Jamie Dornan). Nasce uma complexa relação entre ambos: com a descoberta amorosa e sexual, Anastasia desvenda não apenas seus desejos mais íntimos, mas também os segredos mais obscuros que Grey tenta esconder.
Segredos
A autora E.L. James discute o que há em “Cinquenta Tons” que afetou de tal forma tantos milhões de leitores. “Fundamentalmente, é uma simples história de amor sobre uma jovem inexperiente, que é mais forte do que pensa ser e encontra um homem ferido por um passado doloroso, e sobre o poder de cura do amor incondicional”, destaca. “As cenas de sexo fizeram manchetes, mas o que atraia os fãs da trilogia era a história de amor”, garante.
A escolhida para a tarefa de adaptar o livro às telonas foi Kelly Marcel, que acabara de escrever o elogiado Walt nos Bastidores de Mary Poppins e trabalharia em conjunto com E.L. James. “”Cinquenta” Tons é um livro longo e fiquei impressionada como Kelly conseguiu condensá-lo num roteiro enxuto, ainda assim captando a essência do romance”, destaca a escritora. “Minha parte favorita do processo foi trabalhar com ela, decidindo as cenas que manteríamos e as que deixaríamos de lado”.
A tarefa seguinte seria eleger quem comandaria o filme e a escolhida foi Sam Taylor-Johnson, que após diversos curtas elogiados, conquistou o reconhecimento da crítica com “O Garoto de Liverpool”, longa sobre os primeiros dias de John Lennon. “O motivo fundamental pelo qual quis fazer esse filme é que ele passa a sensação de um conto de fadas com enredos semelhantes àqueles com os quais crescemos, embora em versão bem adulta: uma jovem mulher encontra seu príncipe. Ele é inacessível. Bem-sucedido, fabuloso, rico, mas há reviravoltas e desdobramentos e se torna algo muito diferente. É, também, a história dessa garota em exploração sexual, numa jornada para a maturidade”, explica.
Segundo Taylor-Johnson, em muitos momentos “Cinquenta Tons” é como a maioria dos romances já lançados. “Em muitos aspectos, a história de Christian e Ana é uma história de amor do tipo mais óbvio”, analisa. “Trata-se de duas pessoas se apaixonando e acertando o que farão ou não uma para a outra, do que desistirão ou não e que caminho tomarão. Dentro disso há mais limites do que em muitos relacionamentos. Ana se apaixona por uma pessoa complicada num primeiro romance e numa primeira jornada de exploração sexual. Para Christian é também o que o torna acessível para começar a sentir, respirar e aprender a amar”.
“Cinquenta Tons de Cinza” é uma história de amor. Mas diferente dos habituais contos de fada, explora limites pouco abordados no cinema e busca defini-los como parte integrante do relacionamento entre Anastasia e Christian Grey, dentro de um conjunto de regras de consenso mútuo entre os personagens. E é exatamente esta curiosidade provocada pelo “lado obscuro” que pode ter alimentado a procura pelos livros e consequentemente, por sua adaptação aos cinemas.
O desafio de Cinquenta Tons é comprovar ser muito mais que chicotes estralando. Afinal de contas, se excitação fosse a única “força” que impulsiona este produto junto ao mercado, as vendas teriam se reduzido logo que uma outra coisa atraísse a imaginação do público. Mas ainda temos “Cinquenta Tons Mais Escuros” e “Cinquenta Tons de Liberdade” pela frente.