Publicado em: 11/08/2017 11h33 – Atualizado em 11/08/2017 17h55
A contribuição africana
na arquitetura paulista
Como escrevi no artigo anterior os intelectuais do IPHAN capitaneados por Lucio Costa definiram um padrão para a arquitetura brasileira. No que se refere a participação africana, especificamente em São Paulo, pode-se dizer que a contribuição negra não foi mencionada na construção desse padrão. Nomes da historiografia da arquitetura brasileira, como Ernani Silva Bruno e Carlos Lemos, compartilharam de tal leitura, mas com algumas considerações diferenciadas. Ao utilizar a pesquisa de inventários e testamentos, se opuseram à dita “tese original” de Luis Saia, dividida entre o exemplar puro e tardio da casa bandeirista, salientando uma grande quantidade de variações de tais edificações. Mas, no que se refere à principal técnica construtiva utilizada em São Paulo na época, a taipa, Carlos Lemos também não deu créditos à mão de obra africana, mas sim aos portugueses e mamelucos, responsáveis por erguer as moradas bandeiristas. (Lemos, 1999, p.12). Na verdade, para Lemos quem foi responsável por trazer as técnicas empregadas nas construções paulistas foram os brancos portugueses, prática que foi apropriada em terras paulistas pelos mamelucos, pois, segundo ele, o colonizador “trouxe tudo isso de ouvido, de memória, e mesmo os projetos desenhados em Portugal aqui foram deturpados pela improvisação dos mestres independentes”. (Lemos, 1979, p. 7-9). Ao negro não foi dado nem mesmo o direito da participação na construção paulista. O mais problemático de tudo isso é que tais propostas epistemológicas da história da arquitetura foram e ainda são as bases teóricas dominantes dentro deste campo da historiografia, pois dialogam com a postura defendida por Lucio Costa, que afirmava que “havia negro para tudo (…) o negro era esgoto; era água corrente no quarto, quente e fria; era interruptor de luz e botão de campainha; o negro tapava goteira e subia vidraça pesada; era lavador automático, abanava que nem ventilador”.(Costa, 1962, p.174-175). Ou seja, havia negro para tudo, menos para contribuir, de forma decisiva, com seu conhecimento especializado, no diverso mundo do trabalho escravo brasileiro.