Publicado em: 14/12/2017 10h09 – Atualizado em 15/12/2017 20h35
Desemprego 4.0 – Parte 1
vinicius maximiliano
É bastante interessante notar, ao longo de tantas notícias que circulam hoje pelas redes sociais, que o foco de “sucesso”, recuperação econômica e estabilidade, misturam-se fortemente com nossa capacidade vergonhosa de imitar o consumismo americano de maneira desenfreada e descontrolada.
Milhões de consumidores gastando suas economias (ou melhor, seus benefícios sociais antecipados pelo governo!) em compra de bens de consumo, pela simples apelação de que “é época de comprar”. Esquecem-se de que, janeiro está chegando e que as economias gastas nas “festas” de consumo do fim do ano, farão falta!
Não não sou um arauto do combate ao capitalismo, tampouco defensor do nivelamento social generalizado, nem que todos somos “iguais” e que é errado ter dinheiro ou fazer uso dele. Longe de mim! A razão pela qual escrevo essa história, está justamente em perceber, ao longo de quase 40 anos de existência, que as pessoas realmente são ou escolhem ser ingênuas, muito ingênuas!
Estão vivendo como se o país tivesse se recuperado, não bastasse termos hoje um dos maiores índices de desemprego de nossa história, ultrapassando os 13 milhões de desocupados. Ouvimos em todas as mídias que a crise está passando e a economia se recuperando, nada obstante o aumento da gasolina seja o sétimo em poucos meses, a inflação real (não o índice divulgado pelo governo) esteja na casa dos 10%, e ainda tenhamos os juros mais altos do mundo.
Lemos que o mercado consumidor está aquecido e animado para o final do ano, mesmo vendo milhares de brasileiros terem seu crédito negado pelos bancos, simplesmente em uma espiral de “análise de crédito” ininteligível. Sem dinheiro “vivo” no mercado, fazer acordo em dívida é simplesmente prorrogar o problema e retomá-lo ainda maior com os juros sobre juros.
Diversos bancos e empresas públicas estão à beira da falência, escondendo prejuízos e formatando PDVs para tentar sobreviver até o final do atual governo, que só sabe falar na reforma previdenciária, senão para dar uma resposta a investidores internacionais dos compromissos assumidos após o impeachment! (não, também não sou partidário do PT nem da presidente Dilma, que nos deixou uma das heranças mais nefastas da economia dos últimos 30 anos).Os repasses aos municípios nunca foram tão prejudicados, com a queda a arrecadação real, com governos que beiram o desespero formatando “parcelamentos” criativos, na tentativa de extrair algum fluxo extra! E com tudo isso ainda vemos os “estouros de boiada” das black fridays Brasil afora.
A reforma trabalhista, que anima uns e apavora outros, colocou uma das estruturas mais sólidas do século passado em cheque: sindicatos estão demitindo para se manterem abertos. Juízes do trabalho se rebelam contra o próprio Estado que os sustenta, em uma busca insana de conter o que o mercado já decidiu: não há mais segurança em nenhuma atividade profissional, senão a adaptação constante e a negociação!
Aliás, nós como brasileiros somos péssimos em negociação! Não gostamos de negociar gostamos de impor! E nossas imposições geralmente buscam preservar nosso “status quo”, focando na preservação da zona de conforto. O lema é algo como: podemos negociar sim, desde que todos os meus privilégios sejam preservados, eu não perca meu emprego e não precise me readaptar a nada!
Setores da economia que se sentem ameaçados seguem em geral, dois caminhos: o “lobby” legislativo, em todas as esferas para tentar barrar as inovações, lançando leis mais insanas do que a própria inovação que desestrutura o mercado instalado; ou a revolta civil: o setor se reúne com seus caciques, articula uma greve geral, seguida de pancadaria e violência, e depois param a economia local ou criam empecilhos inexplicáveis ao mais cético dos estrangeiros que tende compreender as estruturas brasileiras.
A educação básica no país está abandonada pela transferência quase integral ao setor privado, que por sua vez não se preocupa em seguir as determinações mundiais de capacitação dos alunos e de respeito aos professores como formadores de seres humanos e “futuros trabalhadores”. As universidades públicas, como reduto dos “princípios” socialistas, estão sucateadas, prestes a serem fechadas e sustentam o status de “educação gratuita” para uma horda de vestibulandos, sendo formados para o desemprego!
Já o ensino fundamental foca no vestibular e esquece da vida real! Alunos bitolados, estressados, sobrecarregados com matérias totalmente “inúteis” ao mundo profissional moderno em que vivemos, se debatem com outros milhares pela disputa de vagas em faculdades que, quando não estão na classificação das públicas que mencionei acima, drenam das famílias todas as economias para uma formação profissional para o desemprego! No Brasil, ainda vivemos o objetivo utópico de que o “estudo” é aquilo que extraímos das faculdades e que nos trará uma profissão segura, estável e para a vida toda. Só que não!
Até agora, não contei nada de novo senão que a economia que está sobrevivendo a estes solavancos, está se reestruturando com base em tecnologias, robótica e inteligência artificial suficientes para que, ao retomar o verdadeiro crescimento de mercado, não precisem recontratar os atuais desempregados. Diante de toda essa realidade, estamos vivendo a era do Desemprego 4.0, estejamos dispostos a acreditar ou não!
Vinicius Carneiro Maximiliano
é advogado corporativo
e gestor contábil.
é advogado corporativo
e gestor contábil.
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