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410 Comunidade Japonesa 80 Anos De Imigracao

Leitura obrigatória

Publicado em: 02/12/2015 11h07 – Atualizado em 08/12/2015 16h48

Comunidade japonesa: 80 anos de imigração

Primeira família, de Nakaji Gomassako, chegou a Indaiatuba em 1935, na Fazenda Pimenta

Fábio Alexandre



O ano de 2015 marca os 80 anos de imigração japonesa no município. História marcada por muito trabalho e organização, já que em 1947 seria fundada a Nihonjinkai, que daria origem à Associação Cultural e Esportiva Nipo Brasileira de Indaiatuba (Acenbi).
O começo desta história remete ao ano de 1930, marcado por um período de crise na economia brasileira, gerada pela queda na exportação do café, devido a uma grande crise mundial do produto. Com isso, grandes fazendas localizadas na região mogiana, que englobava de Campinas a Ribeirão Preto, acabaram indo à falência.
Observando o momento de instabilidade, imigrantes japoneses dessa região investiram em pequenas plantações de arroz e algodão em outras fazendas da região. O imigrante Nakaji Gomassako, que morava onde hoje é o trevo de Campinas, na região do quilômetro 96 da Rodovia Anhanguera, foi um dos que abandonaram as fazendas de café.
O ano era 1935 e Gomassako chegava com a família na Fazenda Pimenta, para dar início à sua plantação de algodão, em um terreno arrendado. Com as péssimas condições das estradas vicinais existentes na época, a solução era utilizar a Estrada de Ferro Ituana, que ligava Campinas a São Paulo, e que acabou atraindo outros imigrantes para as imediações das linhas Ituana e Douradense.
Em 1941, a Fazenda Pimenta receberia Teruo Imanishi e Uichi Miyake, que também arrendariam um pedaço de terra, e em seguida as famílias Takahashi e Miura, aumentando gradativamente o número de imigrantes japoneses na região, formando uma pequena colônia. De início, todos cultivaram o algodão, mas aos poucos introduziram o tomate em suas plantações.
Mesmo com excelentes condições de transporte e um solo que propiciava e possibilitava a plantação simultânea de algodão e tomate, a primeira metade da década de 40, marcada pela 2ª Guerra Mundial, trouxe poucas famílias japonesas. No entanto, ao término do conflito, o número de famílias aumentaria exponencialmente.

Visando basicamente o cultivo de café, muitos migraram para o norte do Paraná e outra corrente migrou para região próxima a São Paulo, visando o cultivo de hortaliças. Dessa segunda corrente, muitos acabaram por migrar na direção de Campinas e Jundiaí.

Assim, iniciaram-se as migrações para as cercanias de Indaiatuba, aumentando a presença de japoneses na cidade. No início de 1947, Magotaiyu Kuwahara instalava-se em Va-

linhos, enquanto Miyoji Takahara chegava a Indaiatuba. Ainda naquele ano, a Fazenda Pau Preto acolheria as famílias de Yoshiro Hayashi, Takashi Fujiwara, Tamotsu Fujiwara e Etsutaro Tumoto, todas dedicadas ao cultivo de tomate.
Acenbi
No período que antecedeu a 2ª Guerra Mundial, o pensamento entre os japoneses era de trabalhar durante dez anos no Brasil, acumular riquezas e volta à terra natal. Porém, ao término do conflito, muito desistiram e resolveram permanecer em definitivo. Para tanto, teriam que adaptar-se aos costumes locais e passaram a adquirir suas próprias terras.
Outra necessidade urgente surgiria: educar seus filhos neste país. Muitas escolas de língua japonesa foram criadas antes da 2ª Guerra Mundial, mas um decreto do governo brasileiro datado de 25 de dezembro de 1938 obrigaria o fechamento de todas. Com a queda do decreto, em 18 de setembro de 1946, os japoneses passaram a se organizar para a formação de associações e aberturas de novas escolas.

Foi então que em 7 de setembro de 1947, sob a liderança de Teruo Imanishi, os japoneses residentes em Indaiatuba fundariam o Nihonjinkai, com a denominação Associação de Japoneses da Região Ituana.
A primeira era composta por Teruo Imanishi como presidente, Koichi Takahashi como vice-presidente, Nakaji Gomassako e Etsutaro Tumoto como conselheiros e Yassube Yoshioka como tesoureiro.

A sede foi construída na Colônia Bicudo, na Fazenda Pau Preto, onde a maioria dos japoneses estava estabelecida.
De início, a comunidade se reunia esporadicamente em confraternizações, mas com a chegada de novas famílias, as atividades esportivas cresceram e uma escola de língua japonesa foi montada.

Em janeiro de 1952, em assembleia composta por 32 pessoas, o Nihonjinkai passaria a se chamar Associação de Japoneses de Indaiatuba, transferindo a sede para o centro, que existe até hoje. “Hoje mantemos nossas tradições com apoio da Japan International Cooperation Agency (Jica), que nos enviam professores voluntários para ensino da língua e dos esportes, como beisebol e softbol”, conta João Yamate, presidente da Acenbi.

A coordenadora Eliza Ayako Mukai, acompanhada dos cinco professores que lecionam na escola Nitigo Gakko
A coordenadora Eliza Ayako Mukai, acompanhada dos cinco professores que lecionam na escola Nitigo Gakko (Crédito: Fábio Alexandre)
Unidade conta com 80 alunos a partir dos 5 anos, e 30% deles não são descendentes (Crédito: Fábio Alexandre)
Miyoji Takahara veio em 1936 e dá nome à Emeb da Acenbi
Miyoji Takahara veio em 1936 e dá nome à Emeb da Acenbi
(Crédito: Álbum de família)
Nakaji Gomassako: primeiro japonês a chegar à cidade
(Crédito: Álbum de família)

Nitigo Gakko permite ensino da língua às novas gerações

Fábio Alexandre
Unidade conta com 80 alunos a partir dos 5 anos, e 30% deles não são descendentes
Um dos pilares da Acenbi é a manutenção da cultura japonesa na cidade. Por isso, o ensino da língua às novas gerações sempre foi uma preocupação, por meio do Nitigo Gakko, a Escola de Língua Japonesa da associação, que atualmente conta com 80 alunos, sendo que 30% deles são não-descendentes. Para 2016, as matrículas já estão abertas.
Nitigo Gakko sempre esteve intimamente ligado à evolução da Associação, com o objetivo de perpetuar e divulgar a milenar cultura japonesa. “Hoje, temos um Estatuto que mantém a escola. Sempre nos preocupamos com o ensino da língua para que não acontecesse aqui o que ocorreu em outras associações pela região, que acabaram se extinguindo”, afirma o presidente da Acenbi. “O ensino permite que mantenhamos esta linhagem”.
Hoje, o Nitigo Gakko conta com três turmas. A parte da manhã é reservada para a Terceira Idade e crianças e adolescentes de 5 a 15 anos, que também ocupam o período da tarde. À noite, a escola recebe adolescentes e adultos. “No total, temos 40 crianças e 40 adultos conosco. Este ano, tivemos uma procura maior pelas aulas aos sábados”, conta a coordenadora Eliza Ayako Mukai. “Temos também alunos da região, de cidades como Campinas, Itu e até Jundiaí”.
O conteúdo das aulas é voltado para conversação. Mas diferente da língua inglesa – que você pode não entender, mas consegue ler, já que está em letra do alfabeto – no japonês existe um entrave. “Além da língua, temos também a letra”, ressalta Eliza. “Por isso, demora-se um pouco no início. São mais de 50 alfabetos para decorar, com diversas variações antes dos ideogramas”, prossegue. “O aprendizado é lento no início, mas depois que o aluno compreende toda esta fase do alfabeto, para os brasileiros, a língua japonesa em termos de gramática é fácil, muito mais fácil que qualquer outra língua estrangeira”, destaca a coordenadora. “Isto porque não possui gênero, número e os verbos não têm tanta flexão como na língua portuguesa”.
Já o ensino dos ideogramas traz uma particularidade. “O aprendizado dos ideogramas, para as crianças e adolescentes, dura em torno de seis meses, para entender o alfabeto”, afirma Eliza. “Mas como a quantidade de ideogramas é muito grande e varia de acordo com a necessidade, é um aprendizado contínuo, até entre os japoneses”.

Pensando nisso, o conteúdo das aulas é diferenciado. “O advento do computador faz com que você digite a palavra. Por isso, muitas pessoas não sabem escrever, mas sabem ler. Na nossa escola, damos foco nisso: tem que saber, no mínimo, a leitura. Pode não saber escrever, mas é preciso ler os ideogramas e as letras”.

Professores possuem métodos de ensino em três níveis

O ensino da Língua Japonesa é dividido em três níveis: Introdutório, Básico e Intermediário. Para crianças de até 12 anos, não conseguimos trabalhar gramática. Então, para aqueles que vão começar o aprendizado da língua, fazemos um trabalho com vocabulário, frases prontas”, conta a coordenador. “Acima de 12 anos, como na escola já está definida a gramática e se falarmos em verbos e adjetivos eles compreendem, então pegamos pesado na conversação básica”.
A grade curricular foi preparada pensando na criança que vai ficar dez anos na escola. “Antes do Introdutório temos o pré-escolar, para crianças de 5 a 7 anos. Mas para a criança que não entrou nesta fase, também temos turmas”, explica. Em outros casos, o ensino é voltado para a demanda. “No período noturno temos o Módulo, com turmas de conversação Business, voltada para os negócios. Para os jovens que estão estudando e futuramente querem passear ou pleitear uma bolsa de estudos no Japão, o que eles aprendem aqui é suficiente”.
Para se matricular, não é preciso ser sócio da Acenbi ou mesmo descendente. “Recebemos quem tem interesse na língua e cultura”, ressalta Eliza. Por isso, as aulas mesclam conversação, redação, compreensão auditiva, cultura e práticas artesanais, como o origami. “Qual o significado de aprender a língua, se eu não souber usar? Por isso temos música, teatro e muito mais na sala de aula”.
Origens
Hoje, cerca de 30% dos alunos são não-descendentes. Para a coordenadora, existem três razões que levam este público à Nitigo Gakko. “Primeiro, temos aqueles alunos que gostam do anime e mangá e querem se aprofundar na língua. Em segundo, aqueles que pensam no trabalho. E em terceiro, aqueles que se identificam e gostam da cultura, deste trabalho comunitário que realizamos e querem fazer parte do grupo”.

Curiosamente, os não-descendentes têm maior facilidade de aprendizado.
“Os não-descendentes estão procurando algo diferente e são os que mais aproveitam o ensino, sem medo de errar. Já os descendentes têm mais receio de usar a língua, porque tem alguém em casa que fala o japonês”, explica. Já para a Terceira Idade, o conteúdo é diferenciado. “Na maioria, são pessoas que já sabem a língua e dominam a conversação, mas nunca estudaram. A gramática é novidade para eles”.

No total, além da coordenadora, cinco professores comandam as aulas, sendo uma enviada pela Jica. “Eles ficam cerca de dois anos no Brasil e também nos ajudam com atualizações da cultura japonesa, que passamos aos nossos alunos”, afirma Eliza.
Os interessados podem conferir algumas aulas gratuitamente. “Pedimos que as pessoas venham assistir algumas aulas, sem cerimônia”.

Matrícula e rematrícula já estão abertas. “Além das matrículas e da mensalidade, temos dois eventos por ano que nos ajudam a manter a escola. Em março, temos o Bazar Beneficente, e em agosto, a Festa do Sushi”, informa Yamate.
A Nitigo Gakko fica na Rua Chile, 689, Jardim América, nas sedes do Centro Esportivo e Secretaria. Mais informações pelos telefones (19) 3834-7108 ou 3834-2584 ou pelo site www.acenbi.org.br. A Acenbi também tem a sede social, que fica na Rua Humaitá, 1.710, e o telefone para contato é (19) 3894-2719.
(Fábio Alexandre)

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