Publicado em: 25/07/2018 12h23 – Atualizado em 06/08/2018 14h10
Timóteo, o rei da rua
Valdomiro Pires de Oliveira
Logo que mudei para Indaiatuba percebi que estava no meio de um povo simpático e acolhedor. Fiz novos amigos na barbearia, no açougue, na padaria e fiquei muito amigo do homem que vende espetinho de gato próximo à minha Igreja. Um dia a dois quarteirões da minha casa, vi um cachorro deitado no meio da rua, parei o carro, desci e fui lá pedir ao cão dorminhoco, para não dizer folgado, que me deixasse passar. Então ele saiu lentamente, naquela pressa de um jogador de futebol substituído quando seu time está ganhando. A cena se repetiu mais de uma vez até que passei a chamá-lo de “o Rei da Rua Mendes Junior”. Numa outra oportunidade, ao ter que tirá-lo novamente do meio da rua, aproveitei para falar com o seu dono que e estava na porta e se chama Candão. Ele foi logo se desculpando e dizendo: ele é assim mesmo, um folgado. Perguntei pelo nome do cachorro e ele respondeu: Timóteo.
A partir desse dia comecei a prestar atenção no Timóteo que é bonito, simpático, de cor marrom, mistura de pitbull com basset, e lembra o “Valente” cachorro da minha infância. Seguindo os passos do Timóteo logo descobri coisas. Ele não é como o meu maltês, John Lennon, que levo para passear quase todos os dias e sempre que saio encontro o Timóteo pelas ruas do bairro fazendo seu solitário passeio. E quando ele passa as pessoas falam com ele, chamam pelo nome, ele abana o rabo e prossegue sem olhar para trás. No meu caso ele se aproxima do meu mimadinho John saúda trocando as típicas cheiradinhas, mas logo levanta o seu rabo e segue sozinho como quem sabe o que quer e pra onde está indo. E quando o Timóteo já ia longe, olhei para ele e para o John e pensei alto: como é bom ser livre, saber o que quer… Se eu soltar o meu mimadinho aqui será atropelado logo ali, na primeira esquina. Lamento não ter educado o John para a rua, como muitos pais não educam os filhos para a vida.
O seu João, um velho simpático que mora perto da minha casa, tem um carinho especial pelo Timóteo e conta que de quando em quando ele aparece no seu portão pedindo alguma coisa para comer. O seu João o acolhe dando água e comida, isso basta para ele ficar ali por três quatro dias defendendo a casa. Seu João acha que essa é a forma que o Timóteo encontrou para agradecer a acolhida e os alimentos recebidos. O seu João só não quer que ele durma no meio da rua porque pode ser atropelado, mas de nada adianta, é no meio da rua que ele dorme. Andando pelo bairro, um outro dia, encontrei o Timóteo deitado no meio da rua em outro endereço, então perguntei para a pessoa por que o Timóteo estava ali e a história do seu João foi repetida pela senhora que ainda acrescentou: Acho que, de vez em quando, ele gosta de variar o cardápio. Coisa que tem a concordância do seu dono que afirma que o seu prato está sempre cheio de ração, mesmo assim, volta e meia, ele some.
Eu não concordo muito com o tratamento de filho para os cães de estimação, mas o Timóteo me fez pensar no assunto, nossos filhos, pois o simpático cão encontrou um meio de agradecer e recompensar às pessoas que o ajudam, enquanto muitos filhos nunca estão satisfeitos com o que recebem e por isso não fazem um gesto de gratidão, não dizem nem uma boa palavra aos pais e nada oferecem como recompensa, ao contrário, se podem continuam tirando dos pais. Vou concluir dizendo: muitos pais não têm a atenção, o carinho e a manifestação de gratidão de um Timóteo por parte dos filhos que criaram, educaram e ajudaram em tudo por toda a vida, o que é lamentável. E viva o vira-latas Timóteo, um verdadeiro professor de gente!