Publicado em: 17/08/2017 13h49 – Atualizado em 25/08/2017 18h05
A contribuição africana na arquitetura paulista II
Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus é Superintendente da Fundação Pró-Memória e Doutor em História Cultural e Pesquisador da Unicamp/IFCH.
No artigo anterior salientei que as bases da historiografia da arquitetura paulista não levam em consideração a contribuição africana no modelo que define o padrão destas edificações de tradição colonial. Tal concepção, na verdade, se abastece de posicionamentos que defendem que os negros e pardos faziam os “trabalhos árduos e os mais simples”, e que “os artífices ‘de cor’ – mulatos em sua maioria e livres – começaram a interferir nos trabalhos artísticos, sobretudo a partir de meados da década de 1780, e preferencialmente em igrejas de pardos e de negros”. (TRINDADE, 2002, p. 36 e 71) Como se o conhecimento especializado dos africanos não tivesse sido utilizado para levantar “edificações de brancos” como, por exemplo, as casas ditas bandeiristas, que como se viu, teve tal denominação, justamente, por se acreditar que tivessem sido erigidas graças ao conhecimento do português e ou mameluco, síntese de uma suposta “raça” paulista, da qual não fazia parte o elemento negro.
Mesmo que tal postura tenha tido larga influência na historiografia da arquitetura brasileira, não quer dizer que deixou de ser contestada. Um exemplo disso é a obra de Aracy Amaral, Hispanidade em São Paulo (1981), na qual ela se contrapõe às ideias de um “partido bandeirista” e da procedência portuguesa de tais edificações. Para Aracy Amaral (1981, p. 24-38) a exclusividade portuguesa e mameluca da construção rural paulista, cederia espaço para a contribuição espanhola, adventícia, principalmente, de 1590 a 1609, época da união Ibérica. No entanto, a historiadora, também, não mencionou na pesquisa a colaboração do negro na arquitetura paulista. Foi o arquiteto Günter Weimer um dos primeiros a salientar tais contribuições, destacando o fato de que o uso da técnica de taipa no Brasil era de herança essencialmente africana. Para Weimer (2014, p.18) “(…) não resta a menor dúvida de que as formas africanas foram determinantes em grande parte do fazer popular de nossa arquitetura (…) por tudo isso, é necessário que estes estudos sejam ampliados e aprofundados para que possamos ter uma concepção mais precisa dos vetores que modelam a nossa maneira de ser”.