Sócios da Labogen, os empresários Leonardo Meirelles e Esdras Ferreira deram seus depoimentos ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, em Brasília, durante a manhã do último dia 2, no processo de quebra de decoro que investiga se o deputado André Vargas (sem partido-PR) atuou com o doleiro Alberto Youssef para facilitar a assinatura de um contrato do laboratório com o Ministério da Saúde. Além disso, o Conselho também apura o aluguel de um jatinho que foi usado pelo parlamentar do Paraná que, supostamente, teria sido pago por Youssef, preso pela Polícia Federal e suspeito de ser um dos líderes de um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões.
Em sua fala, Meirelles disse ter participado de reuniões no gabinete de Vargas na Câmara dos Deputados no período em que ele ocupava a vice-presidência da Casa, mas não informou as datas. O empresário, mesmo com o inquérito da Polícia Federal dizendo o contrário, negou que Vargas tenha atuado como um agente da empresa na intermediação dos negócios com o Ministério da Saúde.
“A tratativa foi com o deputado, para quem coloquei que era um bom projeto para o País e que tínhamos condições de fazer dentro do prazo. Fomos encaminhados para a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde”, revelou Meirelles. “Mas não tinha e nunca houve acerto financeiro com o deputado André Vargas”.
Esdras Ferreira, por sua vez, proprietário de 10% do laboratório, instalado no Distrito Industrial de Indaiatuba, também depôs no Conselho de Ética, mas se recusou a responder a maior parte das perguntas. O empresário se limitou a dizer que não esteve em Brasília negociando contratos da Labogen, que não conhecia Alberto Youssef e que nunca esteve com André Vargas.
Já o relator do processo, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), viu nos depoimentos indícios de tráfico de influência. “Ficou claro que eles vieram aqui orientados”, disse. “Esdras é laranja, não tenho a menor dúvida, não tem o menor conhecimento e condições de ser sócio de uma empresa que movimenta milhões”.
Reclamando sobre a exposição do caso, Meirelles também afirmou ter sido “abandonado” depois que a Operação Lava Jato foi deflagrada e trouxe a situação da empresa aos olhos da mídia de todo o País. “Me sinto abandonado por todos que estavam no projeto. Quando digo abandono é porque eu sou o lado mais fraco da história”.
Delgado, que pretendia apresentar seu parecer antes do início do recesso parlamentar, que ocorre no dia 18 de julho, já trabalha com a hipótese de votar o relatório apenas no mês de agosto, afirmando que, agora, o foco será demonstrar as contradições dos depoimentos e a ligação entre o deputado André Vargas e o doleiro Alberto Youssef.